segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Antropofagismo: Antropófago eu? Não, Você...




Quando era criança não entendia o que acontecia diante de meus pequenos olhos antropofágicos, não percebia que estava tudo ali, todas as partes de vários corpos expostas a mesa para que eu pudesse me servir de bom grado, tudo era me oferecido a medida que eu crescia, minha mente inocente não percebia a importância de me tornar um predador antropófago, desses que para ter as habilidades necessárias teria que ingerir partes dos meus adversários mais habilidosos. Como se eu fosse eu um descendente de Pero Sardinha, preferia estar sempre em posição de negociar e tentar compartilhar com meus semelhantes as minhas, sem precisar necessariamente ser devorado, ou devorar, me enganei, tudo era postergado como um câncer inevitável retardado por um medicamento que me destruía ate as unhas, cresci e hoje vejo que a tribo é canibal, e me alimento hoje de hortas marítimas, ostras balzaquianas, e marmelo feito ao favo do salgado mel, e o mais próximo do antropofagismo que me encontro, se restringe a salmoura que deleito-me às coxas de mulheres virgens, que nem sempre, ou quase nunca, tenho oportunidade de saborear, tudo é antropofagismos, sinto lá dentro do meu âmago a necessidade de me tornar uma caetés ou um tupinambá, sentar a beira e esperar o mais forte guerreiro naufragar, e eu poder devorar suas partes, ou um homem santo também, assim tenho proteção pra seguir, homem que come homem, como totem suas pernas, braços, olhos, cérebros e tudo o que lhe for de qualidade, minha vó dizia, “...comer o cabilouro atrás da porta deixa você mais bonito...” mas o que tenho que comer pra ficar mais sagaz, homens e mulheres competindo em uma arena voraz, e no final ao vencedor não são mais batatas, e sim suas próprias vísceras servidas aos derrotados, outro dia um amigo disse “...pé que da fruto é o que mais leva pedra...” eu digo cabeça que mais pensa deve ser decapitada e servida aos que tem dificuldade de pensar, para que esses possam raciocinar com a voracidade de um vencedor, derrotado? É o antropófago que não come nem uma orelha, me vejo diante de um dilema, outrora levantado pelo saudoso Oswald de Andrade, mestre que hoje faço antropofagia a suas idéias, "Tupi, or not tupi? that is the quastion..."

"Tupi, or not tupi that is the question"

, podem ate dizer que o antropofagismo social esta morrendo, chegando ao fim com a caridade e a solidariedade, mas será que o solidário não é um antropófago da fé? mas todos dias que me levanto para ir trabalhar, no transito, em casa, no trabalho, na rua, no bar com os amigos ou num flerte barato, me vem sempre a mente uma única regra prima dos antropófagos, gritando em meus ouvido, "..Só me interessa o que não é meu...",

"...Só me interessa o que não é meu..."

bizarro? Assustador? talvez ate intragável? Sim, se visto com toda hipocrisia que temos em nosso coração, mas isso é a mais intensa verdade oculta no lugar mais escuro, úmido e sombrio do nosso peito, seja antropófago, coma a carne, beba o sangue, viva a antropofagia, literal, cultural, sexual, carnal, social, viva Oswald de Andrade e tudo o que possa ingerir para te fortalecer mesmo que seja apenas fé.

O que vou comer hoje?

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A saída...o salto...o vento...tudo muito inesperado e vivido como se tem que ser vivido, cada segundo de duvida seguido por sentimentos...